quinta-feira, 23 de agosto de 2007

O atrevimento da ignorância





















Falam de Marx e Lenine, mas aparentemente nunca os leram. Quanto mais estudarem-nos...

Pesquisa efectuada. Algumas, muitas, centenas de páginas analisadas. Há que retirar algumas conclusões. E é possível fazê-lo.

Por um lado, a esmagadora maioria dos jornalistas, comentadores e analistas que se pronunciam sobre as posições dos comunistas portugueses acerca da chamada globalização revela um desconhecimento (ou ignorância) atroz. Falam de Marx e Lenine, mas, aparentemente, nunca os leram. Quanto mais estudarem-nos. Referem o PCP, mas sobre os seus documentos escritos e publicados nada. Nem uma linha.

Por outro, o seu atrevimento é directamente proporcional a esse mesmo desconhecimento (ou ignorância). Prosápia não lhes falta. Mas talvez um pouco mais de modéstia não lhes fizesse mal. E de leitura também.

Antes de passarmos aos factos concretos, um esclarecimento adicional. Não aderi à “revolução” semântica dos conservadores e neoconservadores. Nos anos oitenta do século XX, “revolucionaram”, com sucesso, a terminologia política e económica. O capitalismo passou a ser designado como “economia de mercado”. Mais recentemente, trocaram o imperialismo por “globalização”. Só que um homem é um homem e um bicho é um bicho.

“A burguesia não pode existir sem revolucionar permanentemente os instrumentos de produção, portanto as relações de produção, portanto as relações sociais todas”, escreveram profeticamente Marx e Engles no remoto ano de 1848, no seu Manifesto do Partido Comunista. E, algumas linhas adiantem: “A necessidade de um mercado em constante expansão para os seus produtos persegue a burguesia por todo o globo terrestre. Tem de se fixar em toda a parte, estabelecer-se em toda a parte, criar ligações em toda a parte. A burguesia, pela sua exploração do mercado mundial, deu uma forma cosmopolita à produção e ao consumo de todos os países” (o sublinhado é meu). Este conceito de “mercado mundial” já três anos antes tinha sido referido por ambos os autores no seu livro A Ideologia Alemã. E será repetido, analisado, aprofundado, ao longo dos anos, quer por Marx, quer por Engels.

Em obras como Para a Crítica da Economia Política, Salário, Preço e Lucro (os bloguistas que andam a discutir o poder do mercado deviam ler e estudar duas obras, digo eu), O Capital, Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico e em dezenas de cartas, vai-se desenvolvendo o conteúdo deste conceito. Bem como o papel nele desempenhado pela Internet do século XIX: o telégrafo.

Sessenta anos mais tarde, em 1916, Lenine escreve O Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo. Depois de uma análise exaustiva do “mercado mundial” nas novas condições de desenvolvimento do capitalismo no início do século XX, define o conceito de imperialismo. Fá-lo incluindo cinco traços fundamentais: “1) a concentração da produção e do capital levada a um grau tão elevado de desenvolvimento que criou os monopólios, os quais desempenham um papel decisivo na vida económica; 2) a fusão do capital bancário com o capital industrial e a criação, baseada nesse `capital financeiro`, da oligarquia financeira; 3) a exportação de capitais, diferentemente da exportação de mercadorias, adquire uma importância particularmente grande; 4) a formação de associações internacionais monopolistas de capitalistas, que partilham o mundo entre si; 5) o termo da partilha territorial do mundo entre as potências capitalistas mais importantes”.

E em Portugal?

“A internacionalização da economia, a profunda divisão internacional do trabalho, a crescente cooperação entre Estados e os processos de integração correspondem, neste final do século XX, a realidades e tendências de evolução não exclusivas do capitalismo. Em função da sua orientação, características e objectivos, tais processos podem servir os monopólios e as transnacionais, ou podem servir os povos. É direito inalienável de cada povo e de cada país lutar em defesa dos seus interesses e direitos” , diz o Programa dos comunistas portugueses.

Em torno do conteúdo e significado do movimento “antiglobalização”, trava-se uma imensa luta política e ideológica. É natural que assim seja.

No seu XVII Congresso, em Novembro de 2004, o PCP afirma na resolução política aprovada: “A nível mais profundo, a ofensiva global do imperialismo é resultado da própria dinâmica do sistema capitalista, cuja natureza exploradora e agressiva não se alterou nas suas características fundamentais. Uma ofensiva que é determinada pelas exigências de reprodução do capital e a corrida ao máximo lucro; pela necessidade de intensificar a exploração dos trabalhadores, tanto nos países periféricos como nos centros do poder imperialista, a fim de satisfazer as exigências da acumulação capitalista e enfrentar a baixa tendencial da taxa de lucro, reduzindo o preço da força de trabalho e enfraquecendo a capacidade reivindicativa de quem trabalha; pela necessidade de alargar o seu domínio a novos mercados, abolindo as restrições à circulação do capital financeiro e à pilhagem por parte das empresas transnacionais; pela necessidade de dominar novas fontes de matérias-primas baratas, com destaque para as energéticas, cujo controlo é decisivo para impor a sua hegemonia; pela vontade de esmagar formas autónomas de produção, comercialização e consumo, não integrados nos circuitos controlados pelas grandes empresas dos centros do imperialismo, que sejam de natureza familiar, pública ou mesmo capitalista”.

E ainda, em jeito de prever e de prevenir a situação actual: “No mercado imobiliário, cujos preços têm vindo a subir a níveis demasiado elevados, subsistem riscos de um ajustamento abrupto com consequências de expressão mundial”. Em Novembro de 2004!!! Algum dos “críticos” tinha lido isto?... Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação

Por: António Vilarigues

Público,20/08/07

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

A FESTA, DO AVANTE,CLARO.

Veja todos os filmes sobre a Festa do Avante!(clique aqui)
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Os Artistas da Festa

O programa cultural da 31.ª edição da Festa do Avante! foi apresentado ao público. Tema em destaque é a evocação do 90.º aniversário da Revolução Socialista de Outubro, na Rússia, patente em vários espaços da Festa e celebrada com a Cantata Outubro, de Prokofiev.Outro merecido destaque vai para a vida e a obra do músico comunista Adriano Correia de Oliveira, por ocasião da passagem dos 65 anos do seu nascimento.
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31ª Festa do «Avante!»



Na conferência de imprensa de apresentação daquela que é a maior iniciativa político-cultural de massas do nosso país, a 31ª edição da Festa do «Avante!», Alexandre Araújo, do Secretariado do PCP, sublinhou que a Festa «é o resultado do esforço e dedicação de militantes e simpatizantes do PCP de todas as gerações, que em cada ano recriam um espaço de convívio, de reflexão, de reencontro, de amizade, camaradagem e solidariedade que lhe confere uma identidade única e constitui o seu mais forte capital de atracção».
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Compra já a EP da Festa



A Festa do «Avante!» 2007 tem lugar nos dias 7,8 e 9 de Setembro, a EP - Titulo de Solidadriedade já se encontra à venda nos Centros de Trabalho do PCP, no valor de €18,00Inscreve-te nas excursões à Festa, no centro de trabalho do PCP mais próximo.
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«Avante!»: o Jornal que dá nome à Festa



O Jornal «Avante!» acompanha, semanalmente, a construção e as iniciativas de preparação e de promoção da festa do «Avante!»Edição nº 1758, de 09/08/2007 Edição nº 1757, de 02/08/2007 Edição nº 1755, de 19/07/2007Edição nº 1753, de 05/07/2007Edição nº 1752, de 28/06/2007Edição nº 1751, de 21/06/2007

Palco Novos Valores



Associando a cultura à luta juvenil, o Palco Novos Valores da Festa do «Avante!» projecta todos os anos novas bandas músicais que, de outra forma, teriam grandes dificuldades em dar a conhecer o excelente trabalho que realizam. Após vários concertos em cada região de todo o país a que milhares de jovens assistem todos os anos, é na Cidade da Juventude (Espaço da JCP) que muitos novos valores da música portuguesa se dão a conhecer aos muitos milhares de visitantes da Festa do «Avante!» Ficha de inscrição, regulamento e calendário
Desporto na Festa



São muitas as actividades desportivas que vão decorrendo durante os meses que antecedem os dias da Festa do «Avante!». São torneios de várias modalidades que servem para promover a prática desportiva e a Festa.Programa do Desporto - Festa do «Avante!» 2007Iniciativas desportivas de promoção Festa do «Avante!» 2007Nota de Imprensa sobre provas de promoção da Festa do Avante! 2007
Jornada de Trabalho

As jornadas de trabalho na Festa do «Avante!» 2007 começam a 16 de Junho, Sábado. Informa-te no Centro de Trabalho do PCP mais próximo. PARTICIPA!
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XV Bienal da Festa do “Avante!”

A XV Bienal da Festa do “Avante!” terá lugar nos dias 7, 8 e 9 de Setembro de 2007, na Quinta da Atalaia, como parte integrante do programa da grande Festa que lhe dá nome.Aqui encontra o regulamento para participar.
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Grafismos e Som - Festa 2007

Já se encontram disponiveis os Grafismos e os Sons da Festa do «Avante!»

Programa - Palco 25 de Abril - 6ª feira (7de Set)

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quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Os Grupos Económicos Ontem e Hoje

Contextos diferentes um mesmo papel

Escrito por José Alberto Lourenço
01-Jul-2007

No âmbito da Conferência Económica e Social do nosso Partido, um dos desafios que se nos é colocado, consiste no estudo do comportamento dos grandes grupos económicos nacionais nas últimas décadas.
Vários documentos do Partido foram ao longo dos anos caracterizando a forma como os grandes monopólios beneficiaram das condições políticas objectivas que o Governo fascista lhes proporcionou.
Com a revolução, e num curto espaço de tempo, foi possível, através das nacionalizações, colocar o poder económico ao serviço das populações, mas logo de seguida iniciou-se um processo de privatizações que lentamente permitiu às grandes famílias reapossarem-se do poder que a revolução, e bem, lhes tinha retirado.
Neste breve artigo pretendemos não só abordar de forma sintética toda esta evolução dos grupos económicos monopolistas, como com os elementos disponíveis mostrar a sua actual estratégia.
Este é um trabalho que ainda não está concluído. Continuamos a recolher elementos, o que não tem sido fácil dadas as múltiplas formas que os grupos económicos têm de se expandir, mas de qualquer modo iremos procurar deslindar a teia que eles vão urdindo.

A génese dos grupos económicos

O desenvolvimento do capitalismo em Portugal foi profundamente marcado pela existência durante quase meio século de um regime de repressão e violência ao serviço do grande capital e dos grandes proprietários.
A centralização e a concentração capitalistas e a formação e dominação do capital monopolista tiveram como característica particular terem sido aceleradas e forçadas pela intervenção coerciva do Estado fascista.
No caso português a intervenção do Estado fascista acelerou o desenvolvimento económico capitalista, o qual em condições normais deveria passar da concorrência à concentração e desta ao monopólio.
O governo fascista através do agravamento da exploração dos trabalhadores, da fixação dos preços, do crédito selectivo, dos avales do Estado, da política degressiva, das isenções ao grande capital e do agravamento da carga fiscal sobre as pequenas e médias empresas, apoiava inequivocamente as grandes empresas na sua vontade de concentração.
Da mesma forma através do condicionamento industrial, de toda a espécie de concessões e direitos preferenciais foram criadas condições para que da concentração se pudesse passar ao monopólio.
Desta forma foi possível que o capital financeiro, como resultado da fusão do capital bancário com o capital industrial se tornasse dominante e que os grupos económicos monopolistas se formassem, se desenvolvessem e alargassem a sua influência a toda a economia, isto embora o desenvolvimento do processo de industrialização não o justificasse ainda.
Podemos dizer que no nosso país os grupos económicos monopolistas, embora num quadro diferente, beneficiaram de todas as condições que lhes foram propiciadas pelo governo fascista para atingirem essa mesma posição.
Foi assim que um ano antes da revolução em 1973, a nossa economia era dominada por 7 grandes grupos monopolistas: CUF, Champalimaud, Espírito Santo, Português do Atlântico, Borges e Irmão, Nacional Ultramarino e Fonsecas & Burnay. Nuns casos o capital financeiro formou-se pelo alargamento à banca de sectores industriais, casos da CUF e Champalimaud, noutros é a banca que atrai o capital industrial, casos do Espírito Santo, Português do Atlântico, Borges e Irmão, Nacional Ultramarino e Fonsecas & Burnay.

A Revolução de Abril e a nacionalização dos grupos económicos

Com a revolução e como resultado da agudização da luta de classes, que opunha o avanço da revolução portuguesa aos grupos monopolistas, tornou-se inevitável proceder-se à nacionalização da banca e dos sectores básicos da economia. A sabotagem económica e as dificuldades de toda a ordem criadas à economia nacional pelos grandes senhores dos grupos capitalistas, as fraudes e abusos que cometiam nas empresas tornaram um imperativo a aceleração das nacionalizações.
No final do 1.º semestre de 1976 eram 245 as empresas nacionalizadas, entre as quais se encontravam 24 bancos e outras instituições de crédito, 36 companhias de seguros, 16 de electricidade, 5 de petróleos, 8 de fabricação de produtos minerais não metálicos, 1 de fabricação de vidro, 1 da industria do ferro e do aço, 2 de construções de material de transportes, 2 mineiras, 4 de produtos químicos, 6 de celulose e papel, 5 de tabaco, 7 de bebidas, 8 de pesca, 1 de agricultura, 96 de transportes terrestres, 8 de transportes marítimos, 1 de transportes aéreos, 10 de cinema e televisão, 4 editoras e tipografias.

A contra-revolução e a restauração dos grupos económicos

Entretanto o processo contra-revolucionário iniciado com o VI Governo Provisório ganha um outro fôlego com a adesão à CEE em 1986, de tal forma que em 1989 se inicia o processo de privatização e consequente restauração dos grandes grupos monopolistas.
Como resultado da financeirização da nossa economia, nos primeiros anos a quase totalidade das privatizações dá-se nos sectores da banca (Banco Totta e Açores, Banco Português do Atlântico, Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa, Banco Fonsecas & Burnay, Crédito Predial Português, Banif, União de Bancos Portugueses, Banco do Fomento Exterior, Banco Pinto e Sotto Mayor), e dos Seguros (Aliança Seguradora, Tranquilidade, Bonança, Mundial Confiança, Império).
A venda das empresas nacionalizadas ligadas a sectores estratégicos como o sector energético (Petrogal), o sector das telecomunicações (Portugal Telecom), o sector do cimento (Secil, Cimpor), o sector da pasta de papel (Portucel e Soporcel), o sector eléctrico (EDP), o sector químico (Quimigal, Companhia Nacional Petroquímica), avançaria de seguida, logo que efectuados pelo Estado os investimentos de que estas empresas careciam para serem apetecíveis pelos grandes interesses económicos privados.
Nos últimos dezassete anos as operações de privatização efectuadas pelos vários governos de direita (PSD, PS, PSD/CDS-PP e PS) já ultrapassaram a centena, tendo permitido ao Estado português arrecadar de receitas, a preços constantes de 2005, 31,8 mil milhões de euros, cerca de 22% do PIB, mas claro se levarmos em conta o valor das empresas privatizadas, se alguém se pode vangloriar dos negócios efectuados não é o Estado certamente, mas sim os grandes grupos económicos que após a nacionalização das suas empresas, grande parte delas descapitalizadas, endividadas e sem viabilidade económica, as recebem agora em boas condições de rendibilidade de tal forma que são já motivo de cobiça dos grandes monopólios internacionais (banca, energia, telecomunicações, comunicação social, etc.).

Os grupos económicos hoje

De acordo com o Anuário Estatístico de Portugal referente a 2005, existiam em Portugal em 2004, 128 grandes grupos económicos, os quais tinham como actividade económica principal a indústria transformadora (48), o comércio por grosso e a retalho (25), os transportes armazenagem e comunicações (13), a construção (12), as actividades financeiras (12) e as actividades imobiliárias (7) - ver quadro.
Grandes grupos económicos por actividade económica principal, segundo os escalões de empresas participadas
Unidade: N.º






Empresas participadas
Total
menos de 10
≥ 10 e < 50
≥ 50 e < 100
Mais de 100
Portugal





2004
128
24
81
14
9
C - Indústria Extractivas
1
1
-
-
-
D - Indústrias Transformadoras
48
11
31
3
3
E - Produção e Distribuição de Electricidade, de Gás e de Água
3


1
1
1
F - Construção
12
1
6
3
2
G - Comércio por Grosso e a Retalho
25
2
20
2
1
H - Alojamento e Restauração
4
3
1
-
-
I - Transportes, Armazenagem e Comunicações
13
3
9
-
1
J - Actividades Financeiras
12
2
6
3
1
K - Actividades Imobiliárias, Alugueres e Serviços Prestados às Empresas
7
1
5
1
-


3
-
2
1
-
© INE, Portugal, 2006, Anuário Estatístico de Portugal 2005/
Fonte: INE, Ficheiro de Unidades Estatísticas (FUE)





A esmagadora maioria destes grandes grupos económicos, são sociedades anónimas (119) e 35,2% surgiram antes de 1990, 32% entre 1990 e 1995 e os restantes 32,8% foram criados nos últimos 10 anos.
Se é verdade que destes grandes grupos económicos quase 70% incluem no seu seio empresas estrangeiras, também é verdade que em todos os grandes grupos económicos com mais de 50 empresas participadas no seu seio, se verifica sempre a presença de empresas estrangeiras, ou seja quanto maior é o número de empresas participadas de cada grande grupo económico, maior a probabilidade da presença de empresas estrangeiras.
No final de 2005, a análise dos maiores grupos económicos nacionais mostra-nos que os grupos com lucros mais elevados, com um valor superior a 250 milhões de euros, são apenas doze e incluem, os cinco maiores grupos financeiros - CGD, BCP, Santander Totta, BES e BPI; os dois maiores grupos económicos ligados ao sector energético - EDP e Galp Energia; um grupo económico ligado às telecomunicações - PT; um grupo ligado às telecomunicações e ao comércio a retalho - SONAE; um grupo ligado à construção e concessão de auto-estradas - BRISA; e apenas dois grupos económicos ligados predominantemente à actividade produtiva, produção de cimentos, papel e pasta de papel - Semapa e Cimpor.
Este conjunto de grupos económicos ao mesmo tempo que a nossa economia crescia a um ritmo praticamente nulo em relação a 2004 (+ 0,4%), viu crescer o seu volume de negócios no mesmo período 16,5% e os seus lucros atingirem os 5,7 mil milhões de euros - 3,7% do PIB.
Como se isto não bastasse a Comissão de Mercado de Valores Mobiliários publicou no início do passado mês de Maio um estudo efectuado junto das empresas cotadas em bolsa, o qual revela que entre 2000 e 2005, as remunerações dos órgãos de administração das empresas cotadas em bolsa, mais do que duplicaram, tendo mesmo triplicado no caso das empresas do PSI 20.
Significou isto que os Conselhos de Administração e as Comissões Executivas dos Bancos receberam, em média, 9,7 milhões de euros a título de remuneração em 2005, enquanto nas empresas não financeiras esse bolo foi de 2,4 milhões de euros. De notar que no caso da banca a remuneração dos banqueiros está muito associada aos resultados atingidos anualmente, representando a remuneração fixa apenas 50% daquilo que recebem. Isto justificará certamente muitas das chamadas engenharias financeiras que por ali se fazem anualmente.
A evolução tão díspar entre grande parte das empresas cotadas em bolsa e o restante tecido produtivo nacional, espelha uma das características mais marcantes da evolução da nossa economia nos últimos anos, o seu carácter dual - enquanto o sector produtivo fornecedor dos chamados bens transaccionáveis vem evoluindo a ritmos de crescimento muito baixos, próximos de zero, o sector dos bens não transaccionáveis - sector financeiro, sector da energia, sector imobiliário, sector das telecomunicações, sector dos serviços - cresce a ritmos elevados e reproduz lucros sobre lucros. Este último sector cujas empresas mais significativas, estão cotadas em bolsa e integram o PSI 20, com excepção da CGD, conheceu nos últimos cinco anos uma elevada capitalização bolsista que fez duplicar o seu valor.
Resulta daqui um preocupante e cada vez maior défice externo, que retrata o nosso permanente desequilíbrio da balança comercial de bens e serviços e que faz com que a nossa dívida externa líquida, tenha passado de cerca de 10% do PIB em 1996, para cerca de 80% do PIB em 2006.
Nesta situação, com as famílias e as empresas endividadas - o endividamento das famílias atingiu no final de 2006 os 124% do seu rendimento disponível e o endividamento das empresas 104% do PIB - com a poupança nacional a atingir o valor mais baixo da UE 27, 12,2%, para uma média da UE 27 de 22,2%, as necessidades financeiras das famílias e das empresas são satisfeitas pelo recurso ao endividamento externo, o qual significa em muitas situações a posse de grande parte dos activos dos grandes grupos económicos nacionais por parte de capitais estrangeiros. É isto, que já hoje acontece na EDP, na Galp Energia, na PT, no BPI, no BCP, no Santander Totta e em muitos outros grupos económicos, o que tem como resultado mais visível o volume de rendimentos que no final de 2006 saíram do país, como remuneração desses capitais, o qual atingiu os 15 mil milhões de euros, 10% do PIB deste ano.
Esta é sem qualquer dúvida uma situação insustentável a médio longo prazo, já que ela nos coloca nas mãos dos capitais externos e no limite põe em causa a nossa soberania.
Como dizia um economista da nossa praça, a grave situação de défice externo que vivemos, é hoje mais um problema político que económico, já que se as principais empresas estiverem nas mãos de capitais estrangeiros, no momento em que esses grupos tiverem que decidir a realização de investimentos, certamente que não serão os nossos interesses nacionais que os determinarão.