domingo, 5 de outubro de 2008

O QUE CONTA






Sabia-se que iriam aparecer. E apareceram. A dois meses do Congresso e, assim, cumprindo o calendário tradicional...Desta vez, tudo começou com uma pequena notícia do Público informando que um ex-autarca do PCP abandonou o Partido - naturalmente cheio de razões de queixa...O ex-autarca em questão, ouvido pelo jornal que deu a notícia, fez questão de dizer que não se candidataria nas próximas eleições - todavia, um outro jornal, hoje, coloca a hipótese de ele vir a «liderar uma candidatura independente». Pois...Mas foi ontem que o Público abriu, oficialmente, a época da caça: com chamada de primeira página e notícia destacada no interior, o órgão da Sonae, através de um texto assinado por São José Almeida - responsável naquele jornal pelo pelouro da caça ao PCP - «informou» que um alto dirigente do PCP «abandonou, a seu pedido, a Comissão Política do PCP».A Direcção do PCP, ontem mesmo, desmentiu a notícia e repôs a verdade: o dirigente em questão é membro da Comissão Política onde mantém todas as funções que o Público garantia ter abandonado...O Público de hoje, fugindo a fazer qualquer alusão a este desmentido (e ocultando essa fuga com o recurso à citação de declarações de Jerónimo de Sousa sobre o assunto) optou por mudar o tempo do verbo da sua desinformação: onde, ontem, escreveu «abandonou», São José Almeida escreve, hoje, «abandonará». Trata-se de uma opção segura e certa, já que, inevitavelmente, todos os actuais membros da Comissão Política do PCP deixarão de o ser, um dia... - tal como acontecerá com os membros de todas as comissões políticas de todos os partidos de todos os países do mundo...Isto para dizer que a opção segura e certa de São José Almeida não passa de um artifício revelador de profunda desonestidade intelectual e profissional - o que não surprende , sabendo-se o que a casa gasta...Entretanto, já em traje operacional - camuflado, botas grossas e automática bem municiada - a intrépida caçadora volta a ocupar a primeira página (mais a respectiva página interior) do Público de hoje com um disparo sonoro: «Ex-dirigente sai do PCP em ruptura».Lá dentro conta a estória de um ex-dirigente do PCP que em carta à Direcção do Partido (carta «a que o Público teve acesso» - ou seja: que o «ex-dirigente« fez chegar às mãos de São José Almeida para que ela a publicasse), repete tudo o que há quase dez anos anda a dizer sobre o PCP - e que, por sinal, coincide, no essencial, com tudo o que sobre o PCP dizem, desde há várias décadas, os seus mais assanhados inimigos.Procedendo a uma exaustiva leitura comentada da referida carta, São José Almeida informa que o conteúdo das Teses recentemente aprovadas pelo Comité Central para o XVIII Congresso - e que (isto ela não disse mas digo eu) irão ser submetidas a um amplo debate em todo o Partido - «foi a gota de água na paciência» do «ex-dirigente», inconformado com a «orientação do PCP», que é uma «orientação conservadora pelo conteúdo, pela cristalização teórica e ideológica» etc, etc.Por mim, estou em crer que «a gota de água na paciência» do sujeito em questão foi a constatação, por ele feita, de que o PCP continuará a ser, como é há quase 88 anos, um Partido Comunista, rejeitando, inequivocamente, o caminho do abandono da sua identidade para o qual tentam empurrá-lo alguns ex-dirigentes e ex-comunistas, com o apoio inestimável do Público e dos restantes órgãos da comunicação social dominante propriedade do grande capital.Aberta, assim, a época oficial da caça, preparemo-nos: amanhã, ou depois de amanhã, o Público - ou qualquer dos seus gémeos - voltará a carga.Munições não lhes faltam: certamente, há por aí «ex» e «cartas de ex» que dão para muitas primeiras páginas dos média dominantes - que, não nos cansemos de o dizer, são propriedade dos grandes grupos económicos e financeiros.Entretanto, os militantes comunistas prosseguirão na primeira linha da luta contra a política de direita e pela conquista de uma ruptura com essa política, ao lado dos trabalhadores e das populações; prosseguirão os esforços para tornarem o seu Partido cada vez mais forte e influente; empenhar-se-ão intensamente no debate preparatório do XVIII Congresso.E é isto que conta.
Em Cravo de Abril por Fernando Samuel Sábado, Outubro 04, 2008

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