terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Despedimentos- Aumento dos preços – Privatizações: Uma nova fase da ofensiva contra os transportes públicos

Vasco Cardoso


O país está prestes assistir a uma nova fase do processo de liquidação do transporte público e das respectivas empresas do Sector Empresarial do Estado em Portugal. Milhares de despedimentos, redução de salários, redução de oferta, liquidação de direitos, privatizações, eis o que está em curso.

Medidas que, a serem concretizadas, se traduziriam no agravamento das condições de vida das populações, no aumento da exploração dos trabalhadores, em mais desigualdades e assimetrias regionais, no aumento dos preços, no atraso na modernização do país, em novos problemas ambientais e energéticos, no agravamento do défice das contas públicas e da dependência externa.

Começam a ser públicas as reais consequências da orientação dada pelo governo de "redução de custos" em 15% nas empresas do Sector Empresarial do Estado. Uma orientação feita à medida do grande capital europeu que se está a apropriar de forma galopante das empresas públicas de transportes, cada vez mais concentradas num pequeno núcleo de empresas monopolistas e que têm no transporte aéreo e no caminho-de-ferro nacional, os próximos alvos dos seus incomensuráveis negócios.

1 - Ao longo destes últimos meses o Governo PS, ao mesmo tempo que tem ignorado os questionamentos do PCP sobre o rumo das empresas públicas de transportes, foi fazendo uma gestão dessa informação a conta-gotas e à margem da lei. O Governo veio agora, nas vésperas do Natal, anunciar centenas de despedimentos no conjunto das empresas do sector público de transportes, a par do encerramento de serviços que afectará a vida a milhares de utentes.

A ameaça de 815 despedimentos previstos pela CP (sendo que no seu plano de actividades se fala em redução de 30% da estrutura, número que poderá envolver mais de 1500 trabalhadores) e os 336 despedimentos em curso na Escala de Faro da SPDH, são um indicador de uma estratégia cuja real dimensão será perceptível quando se conhecerem os “planos de reestruturação” das restantes empresas públicas de transportes que o governo tem mantido escondidos.

Mais do que qualquer “racionalização” dos custos destas empresas, ou do alegado cumprimento do défice das contas públicas, o verdadeiro objectivo é o de preparar estas empresas para a sua privatização, colocando o Estado a pagar a liquidação de emprego, para que os privados as possam vir a assumir com menores custos e implementar os modelos de precariedade absoluta das relações laborais e os baixos salários que lhes garantam os máximos lucros.

Ao serviço da mesma lógica está a tentativa em curso de destruição da contratação colectiva no sector e a crescente substituição de postos de trabalho efectivo por outsourcing, que afecta já milhares de postos de trabalho.

2 - Sem prejuízo de outras informações que entretanto venham a ser divulgadas – designadamente sobre a Soflusa, Metro, Carris, STCP – é já conhecida a intenção de redução da oferta na Transtejo e são neste momento já públicas as intenções do governo em relação à CP, com a supressão escandalosa de dezenas de serviços, encerramento de mais de 450 Km de serviço regional no próximo ano e a redução da oferta nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto.

Troços como os de Abrantes-Elvas, Pinhal Novo–Beja, Entroncamento–Castelo Branco, Guarda-Vilar Formoso, Régua-Pocinho, Entroncamento-Coimbra, Linha de Leixões, entre outros, serão encerrados ou profundamente afectados com a supressão de serviços.

O Governo também já não esconde o processo de desmembramento da CP que está em curso com a privatização da CP Carga, o encerramento dos pólos da EMEF no Barreiro e na Figueira da Foz, a transferência de parte da manutenção para fora do país e a entrega aos privados da exploração das linhas suburbanas que asseguram mais de 85% dos passageiros no conjunto da empresa, ficando esta reduzida ao longo-curso.

Esta é uma política que continuará a empurrar para o transporte individual milhões de cidadãos, com enormes custos para o país e para a dívida externa mas também para o meio ambiente e para a qualidade de vida das populações.

3 - O novo aumento dos preços, entre 3,5% e 4,5%, a partir de 1 de Janeiro de 2011, sendo fruto da opção tomada por PS e PSD de redução no Orçamento de Estado das verbas para indemnizações compensatórias, é igualmente ditado pela assumida opção de sobrecarregar os trabalhadores e o povo para financiar a especulação e a acumulação. Significativo das opções de classe nesta matéria é o facto de o Governo e o PSD terem novamente ignorado as orientações do Tribunal de Contas sobre a distribuição das receitas do passe social.

Um aumento que contribui para o agravamento do custo de vida que, somado ao roubo nos salários e ao aumento dos impostos, acrescentará maiores dificuldades à vida do povo português.

4 - Nesta política de "redução de custos", o investimento é tratado de forma díspar em função dos interesses que serve. Se se trata de investimento no sentido de potenciar o desenvolvimento do aparelho produtivo é cortado, como são exemplo o não investimento no alargamento da oficina de motores da TAP, que criaria emprego e novas exportações para o país, ou o investimento na capacidade de produção da EMEF, nomeadamente na área de vagões de mercadorias. Mas se se tratam de investimentos considerados necessários à privatização das empresas, então esses investimentos são mantidos. O anúncio pela CP do pagamento de 250 mil euros por um estudo sobre a privatização das linhas urbanas é, em si, um exemplo de onde e com que fins se continuam a investir os dinheiros públicos.

5 - Nestes processos não há uma única medida que aponte no sentido do desenvolvimento nacional. Nenhuma crise pode servir de pretexto para a privatização de empresas e a destruição de serviços, nem tão pouco adiar o necessário investimento num sistema integrado de transportes públicos que tanta falta fazem ao país.

O PCP reafirma que perante as necessidades do país, é outro o caminho que deverá ser seguido.

Em vez de privatizações e da entrega deste sector aos grupos económicos, o que as necessidades do país exigem é o reforço de todas as empresas públicas de transportes.

Em vez dos despedimentos, dos baixos salários e da precariedade impostos nestas empresas, aquilo que se exige é o respeito pelos direitos dos trabalhadores, o aumento das suas remunerações, o apoio à sua formação e melhoria das suas condições de vida.

Em vez do estrangulamento financeiro das empresas públicas, o que o país exige é o seu saneamento e modernização, a sua articulação com uma estrutura integrada de transportes, investimento visando a melhoria do serviço prestado, o recurso e promoção da produção nacional, a eficiência económica no transporte de mercadorias e passageiros.

Em vez de uma estratégia de abandono do transporte público e promoção do transporte individual, com o crescente isolamento das populações do interior e o crescimento exponencial do tráfego automóvel nos centros urbanos, o que a realidade do país exige é uma política de transportes ao serviço do povo português, que melhore a sua qualidade de vida e seja uma alavanca importante para o crescimento económico e modernização do país.

6 - O PCP, ao mesmo tempo que manifesta a sua solidariedade e apelo à luta dos trabalhadores e das populações contra esta ofensiva, reafirma que tomará todas as medidas que estiverem ao seu alcance para impedir tais objectivos.

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