sábado, 21 de março de 2009

A ESPERANÇA E A REALIDADE


Há muita gente que vive de esperança e é bom ter esperança em qualquer coisa.
Esperança que faça Sol ou que chova, esperança de ter saúde, não só para si mas para a família, esperança de poder fazer uma boa viagem e ter umas férias agradáveis
e poder ganhar o loto. São esperanças e desejos que todos nós podemos ter e que se podem tornar realidades sem termos que intervir, ou quase.
Mas outras esperanças há que é necessária a nossa intervenção, no tempo e no espaço certo, para as podermos alcançar.
Quem não gostaria de ter melhores salários, melhor emprego, melhores reformas, melhor assistência na doença enfim melhores condições de vida? Só que muitos
esperam que sejam os outros, os amigos, os companheiros de trabalho a agir e quantas vezes não criticam quando o conseguido não é o desejado.
Nas campanhas eleitorais encontro muita gente, por vezes companheiros, que desejam, como eu, a vitória dos mesmos ideais e das mesmas pessoas mas, é bom constatar, que nada fazem para alcançar tal desejo. Podem votar, mas isso não chega.
"Vamos Ganhar!" Dizem eles muitas vezes, mas são os outros que vão distribuir os panfletos e colar os cartazes.
Os militantes têm uma palavra para designar essas pessoas que partilham as mesmas esperanças e as mesmas vontades, os mesmos sonhos mas não as mesmas acções:
E' o que se chama " Simpatizantes"... Ao contrário, conheço camaradas e amigos que, não esperando já grande coisa para si, continuam a se bater, porque não querem nem renunciar nem trair. Esperar a justiça não é deixar de se bater por ela.
Não é a falta de esperança que explica a crise política e económica que hoje conhecemos. Quem não espera o recuo do desemprego e da exclusão? Mas essa
esperança não cria um só posto de trabalho.
A verdadeira questão é sempre aquela que punha Lenine:" Que Fazer?" questões não de
esperança mas de analise e de escolha; questão de conhecimento, de previsão, de
resolução. Não se trata de esperar. trata-se de compreender e de crer, de prevenir e
de agir. Como é que a esperança pode ser uma virtude? O que determina o valor moral
do homem, não é o que ele espera; é o que ele quer fazer.
Como é que a esperança pode fazer uma política? O que funda a democracia não é a
esperança dos indivíduos; é a vontade dos homens. E' toda a diferença entre um demagogo, que só faz nascer esperanças, e um militante, que mobiliza as vontades.

Devo aos livros de André Comte-Sponville, filósofo, as linhas que escrevi

Armando Madeira


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