quinta-feira, 2 de abril de 2009

QUATRO EMBUSTES DO GOVERNO PS



Perante a vertiginosa degradação das condições de vida dos trabalhadores e da população, confrontado com o desmoronamento do actual quadro económico nacional e internacional e o avolumar das contradições do sistema capitalista, acossado por importantes movimentações de massas, o Governo PS ensaia uma poderosa operação de branqueamento da sua política com vista ao próximo ciclo eleitoral.O Governo PS passou da fase da negação e subestimação da crise para a justificação de todos os problemas que atingem o País com a mesma. O PS esconde que nestes últimos anos foram as suas políticas que – na continuidade de governos anteriores – fizeram disparar o desemprego, agravaram a distribuição do rendimento, alargaram o trabalho precário, aumentaram o endividamento da população, destruíram serviços públicos e liquidaram alavancas fundamentais do aparelho produtivo, tornando o País mais vulnerável face a esta crise do capitalismo.O Governo PS quer ocultar que a política de direita e as políticas que conduziram o mundo à actual situação, porque estão vinculadas aos mesmos interesses de classe, são a mesma e uma só. Foi no nosso País, e não apenas nos EUA, como apregoam, que se atacou os salários e se fez disparar o crédito, que se estimulou a livre circulação de capitais e a especulação financeira, que se privatizou sectores estratégicos da economia ficando à mercê da acumulação capitalista, que se beneficiou o capital financeiro e se fechou os olhos aos crimes de colarinho branco.A crítica ao «neoliberalismo» e a «viragem à esquerda»A viragem no discurso em vésperas de eleições não é novidade. Nenhum governo do PS foi eleito dizendo a verdade aos trabalhadores e ao povo. A diferença, desta vez, é que as recorrentes promessas com «preocupações sociais» são agora acompanhadas de críticas e distanciamentos em relação ao «neoliberalismo» inteiramente falsos, conforme pode ser comprovado por anos a fio de prática política.Críticas que não passam de vagos apelos ao «reforço da regulação dos mercados» ou ao «fim dos off-shores», destinadas a criar um falso distanciamento face aos partidos de direita mas desmentidas pela prática política mais recente. A comprová-lo estão as recentes alterações à legislação laboral na administração pública e ao código do trabalho, o anúncio de privatização da ANA (Aeroportos) para o 2.º semestre, ou a cobertura e apoio dados ao capital financeiro com a transferência dos seus prejuízos para as costas dos trabalhadores. Um falso distanciamento face ao «neoliberalismo», que é parte integrante da operação de «viragem à esquerda» ensaiada pelo PS desde o início do ano, à qual não é alheia a escolha de Vital Moreira (há muito o mais fiel propagandista da política do Governo) como seu cabeça de lista ao Parlamento Europeu, ou mesmo a novela em torno do posicionamento de Manuel Alegre dentro do PS, cujo desfecho dificilmente será outro que não o do seu «regresso à família», a qual, em abono da verdade, nunca abandonou. O Governo que «toma medidas»O Governo desdobra-se em anúncios, visitas (cautelosamente preparadas) e promessas. Um verdadeiro frenesim, com vários ministros no terreno, a procurar criar a ideia de um Governo que está a «responder» aos problemas. Não passa um dia em que não sejam anunciadas «medidas», tantas que a maioria da população não chega a ter a percepção do seu real impacto. Mas o que conta é a imagem que passa. São disso exemplo o «Fundo de investimento imobiliário», o «Provedor do crédito» ou o mais recente embuste anunciado por Sócrates sobre o suposto apoio à habitação para famílias com desempregados.Medidas que passam ao lado das opções de fundo que a situação do País reclama e que o PCP tem vindo a propor. Umas pequenas migalhas, embrulhadas em grandes doses de demagogia, para esconder que o grosso dos apoios foi, e continua a ser, para os grupos económicos e financeiros.A «estabilidade e governabilidade»A retoma da parte do PS, e não só (veja-se as declarações dos líderes das estruturas patronais), do discurso da alegada exigência de estabilidade e governabilidade que a situação do País reclamaria, traz à memória o caudal de argumentos despejados noutros tempos para justificar a continuidade da política de direita.É um discurso que confirma as ambições de poder absoluto do PS, cujo resultado está à vista nestes últimos quatro anos, em que a estabilidade da política de direita foi a instabilidade da vida de milhões de portugueses. Na verdade, uma nova maioria absoluta do PS só significaria maiores e renovadas condições para prosseguir a sua política de favorecimento ao grande capital. São argumentos que procuram esconder que, ao invés da absolutização da estabilidade governativa, aquilo que o País reclama é de uma política que ponha fim à instabilidade social e económica, melhore as condições de vida, afirme a soberania e os interesses nacionais, só alcançável pelo reforço do PCP e da CDU, pela concretização de uma ruptura com a política de direita.É preciso contactar, esclarecer e convencer o PovoOs próximos tempos serão de intensificação da demagogia e da propaganda por parte do Governo e das forças que apoiam e beneficiam com a sua política. Estas manobras – embora com margem de êxito mais reduzida do que em situações anteriores, dada a intensidade e extensão da ofensiva política desencadeada – têm de ser combatidas pela firme denúncia e desmontagem daquilo que está em causa. Uma tarefa que teremos de levar por diante na grande batalha de contacto e esclarecimento que constituem os próximos actos eleitorais.
do Avante por:Vasco Cardoso
membro da Comissão Política do PCP

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